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Pandemia acelera mudança em meios de pagamento 

A quarentena em função da pandemia da covid-19 trouxe um forte impacto para o setor de meios de pagamentos, com queda no volume de transações para bandeiras, emissores e credenciadoras. Entretanto, o isolamento já começa a desvendar um potencial para acelerar mudanças nos hábitos dos consumidores que aconteciam a passos lentos. Pode-se notar crescimento de pagamentos on-line, via links, por exemplo; aumento da quantidade de transações sem contato, com a tecnologia NFC (“near field communication”); e maior uso das carteiras digitais.

Em todo o mundo, o incentivo às mudanças se dá no ambiente privado, entre consumidores e empresas, enquanto governos resistem em acelerar esse processo ao não envolver as fintechs — disseminadoras de muitas dessas tecnologias — na distribuição de crédito e auxílio emergencial para mitigar os efeitos da crise.

Um estudo feito pela consultoria Bain com mais de 2 mil consumidores brasileiros, em meados de abril, mostrou que 48% deles estão dispostos a mudar a forma de pagar após a quarentena, usando mais cartões e celulares. O percentual aumenta quanto menor a renda, tendo em vista que esses serviços já estão mais disseminados no topo da pirâmide social. Entre o grupo da alta renda, 38% disseram que vão elevar o uso de cartão e celular para pagar, fatia que sobe a 46% na renda média e a 55% na baixa.

A Bain notou que mais consumidores estão experimentando serviços digitais, ao pedir comida e acessar entretenimento por aplicativos, o que está acelerando o uso de pagamentos on-line. “Muitas pessoas estão pela primeira vez acessando esses serviços, o que não aconteceria sem a crise”, diz Antonio Cerqueiro, sócio da Bain.

A credenciadora Cielo, por exemplo, notou aumento no uso do link de pagamento durante a quarentena, que chegou a crescer mais de sete vezes em comparação ao período pré-isolamento. O sistema funciona assim: lojistas e empreendedores encaminham um link via SMS, WhatsApp, e-mail ou redes sociais aos clientes, para que paguem via cartão de crédito ou débito, à vista ou a prazo. Grupos como Ri Happy, O Boticário e Santa Lolla adotaram a solução.

A tecnologia sem contato (“contactless”) também foi disseminada. Dados da Mastercard mostram que os pagamentos por aproximação cresceram quatro vezes em março, em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o presidente da empresa, João Pedro Paro Neto, o Brasil tem uma base estimada de 10 milhões de cartões, celulares e ‘wearables’ (relógios e pulseiras) que podem ser usados para pagamentos por aproximação, enquanto a quantidade total de cartões é superior a 350 milhões de unidades, o que mostra o potencial de avanço.

O cartão contacless começou a ser usado recentemente e, portanto, ainda são poucos os clientes com acesso à tecnologia, embora a maior parte do parque de maquininhas esteja preparado — estimativas apontam que 90% dos equipamentos aceitam compras sem contato. Na Mastercard, desde abril de 2019, todos os cartões são emitidos com a tecnologia NFC e, para a base antiga, a troca é feita conforme o vencimento do plástico. Os emissores têm feito as trocas aos poucos, tendo em vista o custo envolvido para distribuir milhões de unidades pelo país afora.

O Banco do Brasil, que tem 11,5% da base de cartões preparada para o NFC, teve aumento de 12% nas compras por aproximação, que evitam o contato físico com a maquininha, entre fevereiro e março deste ano, pré e pós-quarentena. Além disso, notou aumento de 13% das compras com cartões do banco em canais digitais durante as primeiras semanas da quarentena, incluídos aqui e-commerce, mobile ou aplicativos.

O uso de carteiras digitais também tende a crescer depois da crise, para aquelas que têm conseguido maior exposição ao público. O PicPay, controlado pelo Banco Original, tem aumentado substancialmente o número de usuários: antes da crise, eram em média 500 mil ao mês, mas depois da quarentena foram adicionados 3 milhões, no total. O montante resulta de crescimento orgânico, parcerias com governos para distribuição de benefícios, como auxílio merenda do governo de São Paulo, e até patrocínio em lives de artistas.

Apesar de todos esses esforços, o governo federal — no Brasil e em outros países — tem deixado essas carteiras digitais de fora da distribuição dos recursos emergenciais e do crédito a famílias e empresas para mitigar os efeitos do coronavírus. O receio é com a solidez desses negócios em meio a um cenário de menor liquidez no mundo.

“Os governos estão usando mais o canal tradicional, os grandes bancos, mas as fintechs estão provocando a discussão de como podem ajudar”, diz Cerqueiro, da Bain. “O que pesa contra as fintechs é que, com o mercado menos aquecido, o investidor pode estar menos disposto a colocar capital nas fintechs.”

Algumas fintechs têm tentado driblar a situação se tornando mais atrativas. O PagBank, banco digital da PagSeguro, do grupo Uol, vai depositar R$ 20 para clientes que abrirem uma conta gratuita e optarem por ela para receber o auxílio emergencial de R$ 600. Já a Ame Digital, carteira digital das Lojas Americanas, dará “cashback” de R$ 60 para quem transferir o valor e comprar em seu site. “Essa iniciativa segue em linha com o que grande parcela da população precisa: fazer o dinheiro valer mais”, diz Thiago Barreira, diretor da Ame.

Fonte: Valor Econômico

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