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Empreendedores por necessidade, falta inovação aos brasileiros

A mais recente edição da pesquisa internacional sobre empreendedorismo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) traz uma boa notícia  para o Brasil e duas ruins. 

Em 2015, a taxa de empreendedorismo no país chegou ao índice recorde de 39,3%, a mais elevada dos últimos 14 anos e uma das mais altas no mundo.

Representa quase o dobro do registrado em 2002, quando se iniciou a série histórica brasileira. 

Agora, as más notícias:

*Como reflexo da recessão econômica e do desemprego, voltou a subir o fator necessidade como motivo para iniciar um negócio, em contrapartida ao empreendedorismo por oportunidade.
 
*Menos de 1% dos empreendedores brasileiros pode se classificar como inovador. Entre o total estimado de 52 milhões, predominam as atividades de baixo valor agregado e inovação.

O perfil desse contingente continua a ser de baixa escolaridade, movido pela necessidade de conseguir renda imediata.

 

 

CAMINHO DEMORADO

Pelos resultados da pesquisa, o perfil do empreendedorismo no país apresenta vários pontos de atenção, de acordo com Sandro Vieira, presidente do IBQP.

O estudo classifica os países participantes em três categorias, segundo a maturidade demonstrada pelo mercado:

*Impulsionados por fatores
*Impulsionados por eficiência
*Impulsionados por inovação

O Brasil encontra-se no bloco intermediário, o que busca a eficiência. O problema é que não consegue sair dele.

“Não somos ainda um país orientado para a inovação”, afirma Vieira. “Estamos há 20 anos andando em círculo, motivados pela busca da eficiência, sem conseguir dar o salto para a inovação.” A causa está explicada nos pontos acima.

PAINEL GLOBAL

Conduzido no Brasil pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), em conjunto com Sebrae e FGV/SP, o levantamento ouviu, no último trimestre de 2015, cerca de 2 mil pessoas entre 18 e 64 anos, de todas as regiões do país, além de 74 especialistas no tema.

Junto com o Brasil, 86 países estão associados ao Projeto GEM, iniciado em 1999, com uma parceria entre a London Business School e o Babson College.

A coligação internacional busca compreender o papel do empreendedorismo no desenvolvimento econômico e social dos países e tem como principal instrumento a pesquisa GEM.

Em sua metodologia, o estudo busca conhecer os indivíduos empreendedores e não as empresas. E cobre um amplo espectro no conceito, incluindo desde os empreendedores da base da pirâmide aos que abrem negócios complexos e de mais alto valor, e tanto formais quanto os informais.

Destinado a servir de subsídio para os governos na formulação de políticas de estímulo, o estudo procura identificar os fatores críticos que contribuem ou inibem a iniciativa empreendedora em cada país.
 
QUEM SÃO OS EMPREENDEDORES BRASILEIROS

Uma das principais contribuições da pesquisa consiste em identificar os empreendedores como indivíduos, por meio de dados de gênero, faixa etária,escolaridade e renda familiar.

Os resultados mais relevantes do levantamento socioeconômico estão descritos a seguir:

Perfil dos empreendedores em estágio inicial

*Homens e mulheres são igualmente ativos
*Pessoas na faixa etária dos 25-34 anos são os mais ativos. Entre 55-64 anos, os menos ativos
*Pessoas com segundo grau completo são os mais ativos. Com superior completo, os menos ativos
*Pessoas com renda familiar entre 6 e 9 SM são os mais ativos. Com renda inferior a 6 SM, os menos ativos

Perfil dos empreendedores em estágio estabelecido

*Homens são mais ativos do que as mulheres
*Pessoas na faixa etária dos 45-54 anos são os mais ativos. Na faixa dos 18-24 anos, os menos ativos
*Pessoas com escolaridade inferior ao primeiro grau são os mais ativos Indivíduos com curso superior completo são os menos ativos
*Pessoas com renda familiar entre 3 e 6 SM e acima de 9 SM, os mais ativos. *Pessoas com renda inferior a 3 SM, os menos ativos

Perfil geral

*Empreendedores são, na maioria, casados (37% dos iniciais e 47% dos estabelecidos) ou em união estável (18% dos iniciais e 16% dos estabelecidos)
*Solteiros tem maior presença entre os empreendedores iniciais (39%) do que entre os estabelecidos (23%)
*Maioria dos empreendedores, iniciais ou estabelecidos, se declara como sendo
da cor parda (52%) e 38% se declaram brancos
*A busca por órgão público ou privado de apoio ao empreendedorismo  ocorreu por parte de 14% dos empreendedores; 66% buscaram o SEBRAE

AS LEIS DA INOVAÇÃO

Um motivador decisivo para impulsionar a inovação ocorre quando as empresas decidem se internacionalizar. No caso do Brasil, como forma de apressar o processo, o presidente do INPQ considera mais recomendado inverter a prática internacional, estimulando as exportações.

“Se vamos para fora, automaticamente temos que caminhar para a inovação”, defendeu. A adequação às regras internacionais não deixa escolha.
 
Para entender o que a pesquisa considera como empresa inovador, as características estipuladas prevêem:

*Produto ou serviço novo para alguns ou para todos
*Poucos concorrentes ou nenhum
*Acima de 1% dos consumidores são do exterior
*Tecnologia ou processo com até 5 anos
*Mais de 10 empregados e com expectativa de aumentar em 50% nos próximos 5 anos.
*Faturamento anual acima de 60 mil reais

Um grande número de empreendimentos brasileiros não consegue atender a nenhum desses requisitos. E pouquíssimas atingem o nível 3, classificação das que apresentam mais de três desses itens, encontrados nas startups de tecnologia, por exemplo.

QUEM INOVA

O perfil de quem inova traz surpresas e desafia preconceitos e ideologias. Entre as empresas em geral, está concentrada naquelas conduzidas por homens e com maior escolaridade. Quando se separa as iniciantes das estabelecidas, porém, surgem diferenças relevantes. 

 

 

Entre as novatas, predomina a faixa etária mais jovem e a renda até 6 salários mínimos. Já nas estabelecidas, se sobressaem a faixa de 45-64 anos e renda acima de 9 SM.
  
Baixa concorrência, desinteresse pelo mercado externo, uso de tecnologias superadas, reduzida geração de emprego e pouca novidade em produtos e serviços compõem um quadro preocupante.

Significa que temos empresas despreparadas e pouco inovadoras, segundo Vieira, o que faz o Brasil aparecer mal diante de muitos países e não superar nenhum dos Brics. 

“Precisamos trazer mais valor agregado para o perfil da empresa brasileira. Só assim teremos um desenvolvimento econômico de qualidade.”

COMO ESTIMULAR

Por trás das estatísticas, a disposição para o empreendedorismo que os brasileiros demonstram, seja por necessidade ou oportunidade, tende a evoluir.

As grandes histórias empresariais acontecem em qualquer dessas situações, ignorando limitações de idade, gênero, condição social ou escolaridade.

No entanto, chegaremos muito mais rápido lá, segundo o estudo, se as limitações históricas forem superadas e as oportunidades aceleradas.
 
Entre o grupo de especialista ouvidos pela pesquisa GEM, dois fatores foram apontados como positivos.

O fortalecimento do ecossistema de apoio ao empreendedorismo nos últimos anos, com ações diretas de institutos e ONGs, e a abertura de incubadoras e parques tecnológicos, vem trazendo mais segurança aos empreendedores. 

O segundo fator positivo está na facilitação de acesso à informação qualificada proporcionada pela internet.
 
Os pontos negativos, no entanto, se destacam pela sua gravidade crônica – falta de políticas governamentais e educação/capacitação. São os mesmos motivos diagnosticados desde a primeira edição da pesquisa, em 2002.

“Anos após ano, a pesquisa vem apontando essas questões”, lembra Vieira. Não se trata apenas de um problema de empreendedores, mas da população em geral.
 
Também foram citados pelos especialistas outros velhos conhecidos do empresariado brasileiro – apoio maior à inovação e apoio financeiro diferenciado para a empresa que está começando.

Os 52 milhões de empreendedores brasileiros estão à espera dessa transformação. O mundo já está cobrando diante do novo padrão de desenvolvimento e de trabalho que se anuncia.

 

 

Diário do Comércio

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