As tradicionais liquidações realizadas nos meses de janeiro são uma forma de o varejista ajustar seu estoque e começar um novo ano com uma melhor gestão dos produtos armazenados. Se, por um lado, o consumidor já espera por promoções após o Natal, por outro, o empresário tem a oportunidade de iniciar 2019 com um planejamento financeiro mais eficiente. Isso porque o estoque em desequilíbrio afeta diretamente o capital de giro empresarial.
A injeção do décimo terceiro salário e as compras natalinas tendem a aumentar as vendas no varejo paulista em até 30% em dezembro em comparação com os outros meses do ano. A depender do comportamento dos consumidores em dezembro, esse fortalecimento do orçamento familiar pode se estender até janeiro, época dos clássicos feirões de saldos, e isso reflete no Índice de Estoques (IE), apurado mensalmente pela Fecomércio-SP.
Apesar da natural volatilidade do indicador ao longo do ano, em novembro, 56,9% dos entrevistados declararam estar com o volume ideal de mercadorias (sem falta e excesso de produtos). O número é próximo à média histórica pré-crise de 60% e indica que janeiro pode ser um mês decisivo para o equilíbrio definitivo dos estoques.
Tipos de produtos
O tipo do produto vendido é relevante para definir se haverá liquidações em janeiro. Se os produtos são perecíveis (especialmente os natalinos, como alimentos típicos), as liquidações são obrigatórias pois a demanda após o Natal cai drasticamente. No caso de itens não perecíveis (até os sazonais como enfeites), as promoções podem ser menos agressivas ou nem serem feitas. O lojista precisa avaliar se haverá custo adicional em estocar as mercadorias até o próximo ciclo de vendas ou se há urgência em aumentar o capital de giro.
Outro fator é ter planejado o estoque para o período com antecedência, porque entrar num novo ano com estoques exagerados aumenta a necessidade de caixa e/ou de se livrar de um estoque, o que tende a elevar os descontos oferecidos aos consumidores.
Os segmentos de eletroeletrônicos e eletrodomésticos e vestuário também costumam aderir as promoções depois das festas de fim de ano para ajustar os estoques e abrir espaço aos novos produtos a serem lançados.
Atraindo novos consumidores
As liquidações, de acordo com a assessoria econômica da Fecomércio-SP, também têm a finalidade de aumentar o fluxo de caixa e atrair novos clientes, mas o empresário deve ter cuidado na redução do preço de venda dos produtos. É preciso considerar valor de custo da mercadoria, impostos, despesas fixas (como aluguel e salários), gastos variáveis (contas de água, energia, horas extras e fretes) e lucro pretendido. É este último tópico que pode ser alterado para garantir o preço mais competitivo.
Em alguns momentos, é preferível vender a mercadoria com preços reduzidos, sacrificando parte do lucro, a tentar manter a margem de lucro e não conseguir desovar o estoque. Eventualmente, os resultados de curto prazo com as liquidações comprometem a operação de varejo no longo prazo. Convém destacar que promover uma queima de estoques tem custos. Os mais visíveis são os de marketing e divulgação dos eventos promocionais.
Atenção
É compreensível que, após alguns anos de uma crise que afetou todo o varejo, muitas empresas tenham urgências financeiras que levem a decisões extremas. Mas usar automaticamente a tática de liquidações, saldões e promoções sem um mínimo planejamento pode ser prejudicial à empresa.
Não é recomendável a realização de promoções indiscriminadamente, pois isso induz o consumidor a apenas comprar quando ocorrem promoções e prejudica a imagem da empresa, colocando em dúvida se os produtos estão realmente com desconto ou se as promoções na verdade são o dia a dia da empresa. As épocas propícias para esses eventos não devem coincidir com o momento em que o consumidor está com maior folga no orçamento, ou seja, nos dias de pagamento em cada mês. Existem promoções de Natal feitas com muita antecedência e essa estratégia reduz as margens das empresas justamente nos melhores momentos do ano para o varejo.
Fonte: CNC