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6 economistas preveem o que vem aí para o varejo

O consumo de boa parte da população brasileira depende basicamente de renda e crédito. Com base no desempenho desses dois indicadores da economia já é possível afirmar que as perspectivas para o varejo são muito melhores que há dois anos.

  Desde o final do ano passado, o salário médio real do trabalhador está subindo. Começou com aumento de 0,4% em dezembro de 2016 sobre dezembro de 2015 e atingiu alta de 3% em junho passado ante o mesmo mês de 2016, de acordo com o IBGE.

  A taxa de juros caiu para um dígito, 9,5% ao ano, e os analistas de cinco instituições financeiras que mais acertam as projeções, preveem Selic (taxa básica de juros da economia) de 7,5% para o início de 2018.

  Há outros pontos que podem considerados favoráveis ao comércio. A partir de novembro, entram em vigor as novas regrastrabalhistas.

  O trabalho intermitente, um desejo antigo dos lojistas, que permite a contratação de funcionários por dia e até por hora, e a terceirização, são formatos de contratos que poderão agora ser utilizados pelas empresas.

  O pacote de ajuste fiscal anunciado na terça-feira (15/08) pelo governo só deverá produzir efeito no comércio nos próximos anos. O equilíbrio fiscal deve ocorrer a partir de 2021 ou 2022. Só depois disso pode haver queda mais significativa dos juros. 

Conversamos a respeito desses temas com seis economistas a respeito das perspectivas para o varejo neste semestre. Veja os depoimentos a seguir:

Fábio Silveira, sócio-diretor da Macro Sector
 
Se não houver grande mudança na economia internacional, tudo leva a crer que a massa real de salários anual pode chegar no final deste ano até com leve crescimento.

Com a queda dos juros, as condições de crédito também tendem a melhorar. A projeção é de crescimento de 1% para o varejo neste ano e de 2% em 2018.

A reforma trabalhista não deverá ter impacto no setor, uma vez que vai possibilitar a formalização do que já havia no mercado.

O trabalho intermitente e a terceirização já existem nas empresas. Dizer que as novas regras trabalhistas vão criar emprego é balela.O que cria emprego é redução de juros, expansão de crédito e aquecimento da economia. O que está chamando a atenção positivamente agora é a melhora do rendimento real  por conta da queda da inflação.

A massa salarial continua em queda no acumulado dos últimos 12 meses por conta da redução do número de ocupados, de pessoas trabalhando, mas o rendimento real começou a crescer. Isso dá condições para que o varejo recupere o fôlego.

O pacote fiscal recém-anunciado soa como música para os empresários e para os eleitores, mas algo prático só deve ocorrer quando houver equilíbrio fiscal, a partir de 2021 ou 2022, o que permitirá uma redução maior dos juros e, como consequência, aumento de consumo. Todo esse otimismo exagerado em relação ao ajuste fiscal não terá impacto tão imediato.  

 
Paulo Neves Robilloti, economista da LCA Consultores
De janeiro de 2015 até maio passado, o volume de vendas do varejo encolheu cerca de 10%. No caso dos supermercados, a queda foi de 5,5%; nas lojas de tecidos, confecções e calçados, 13%; e de móveis e eletrodomésticos, 15%.

O setor de supermercados é mais sensível às condições do mercado de trabalho e o de vestuário e eletrodomésticos, às condições de crédito. O pior momento da série foi em junho de 2016, quando a queda do rendimento foi de 4,21%. Em maio deste ano, o rendimento médio real subiu 2,3% sobre maio de 2016.

Com isso, a confiança do consumidor melhorou, apesar de ainda estar em um nível baixo. Em maio de 2016, o índice de confiança do consumidor estava em 95 pontos e, em maio deste ano, em 107, caindo para 103 em junho. Em 2014, na média, estava em 117 pontos, de acordo com a FecomercioSP.

O varejo está em trajetória de recuperação lenta porque 2016 foi o pior ano da história recente do setor e isso significa que parte da demanda está represada. O volume de vendas de janeiro a maio deste ano caiu 0,8% em relação a igual período de 2016. A expectativa é que o setor feche o ano com alta de 0,5%.

Ainda é prematuro falar sobre o impacto da reforma trabalhista nas empresas. Com as novas regras, é possível contratar mais, mas com salário menor.

Crédito, inflação, confiança estão melhorando, mas o potencial de crescimento do varejo tende a ser menor até 2022, se comparado com o período de 2006 a 2014, quando uma série de fatores conjunturais era melhor.

Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP)

 
Com desemprego alto e pouco crédito, é difícil pensar na recuperação do varejo. A projeção da ACSP ainda é de queda de 0,4% neste ano.

Há cerca de 14 milhões de desempregados no país, falta crédito, os salários estão apenas começando a se recuperar. A inflação diminuiu, mas os preços já tinham subido muito. O volume de vendas do varejo ampliado, incluindo material de construção e veículos, caiu 5,3% em 12 meses até maio.

Essa queda deve desacelerar, mas isso não quer dizer que a taxa ficará positiva. As novas regras trabalhistas e a terceirização não terão impacto imediato, mas vão permitir uma recuperação do emprego. A confiança do consumidor ainda é baixa. Para o ano que vem, o varejo deve sair do negativo e ficar no zero a zero, pois deve ter um reflexo maior da recuperação dos salários, do emprego, da queda dos juros e da maior facilidade para obter crédito.

A economia será descolada da política na medida em que a equipe econômica e as reformas se mantenham. Agora, as pessoas estão com medo de investir. Isso revela que, de maneira geral, a economia não está descolada da política.

Os setores que têm mostrado efetiva recuperação são autopeças e veículos, por conta de exportações, e lojas de departamento e de eletroeletrônicos, por conta da mudança de tecnologias dos televisores.

De janeiro a maio, o volume de vendas de lojas de autopeças e concessionárias cresceram 5,5% no Estado de São Paulo e o de lojas de departamento e de eletroeletrônicos, 8,8%.

A tendência do varejo é de recuperação, mas de forma lenta. Os setores exportadores vão continuar crescendo, e o restante deve reagir na medida em que melhora o emprego e a renda.

Roberto Macedo, coordenador do Conselho de Economia da ACSP

 O país teve uma safra agrícola recorde no primeiro trimestre e isso teve impacto na economia. Em Ribeirão Preto (no interior paulista), no início de maio, os agricultores gastaram R$ 2 bilhões com equipamentos, o que deve ter gerado fluxo grande na economia no interior.

A probabilidade de que o efeito da produção agrícola se tronsforme em efeito renda é grande. Já a queda de juros deve demorar um pouco mais para produzir efeito. Com a Selic caindo, os bancos vão aproveitar um pouco mais antes de repassar para os clientes.

O lucro dos bancos, portanto, deve aumentar neste ano. A inflação deve ter repique por conta do aumento de preço da gasolina. Vai demorar para a economia voltar ao ritmo de 2014, o que pode ocorrer só na virada da década.

O ano crucial será 2019, após as eleições de 2018, se haverá capital político para aprovação das medidas. Dependendo de quem for eleito, se tiver plataforma reformista, o país deve sair do buraco por volta de 2020. Tem de ter uma cara nova. O PIB para o ano que vem, com muita sorte, cresce 1,5% a 2%, se for eleito alguém bem posicionado, intencionado.

Artur Manoel Passos, economista do Itaú- Unibanco

Com a queda de juros, setores mais associados a crédito, como o de veículos, devem reagir neste segundo semestre. O varejo como um todo deverá crescer 2,4% em relação a 2016. Os setores que deverão ter melhor desempenho são os de produtos farmacêuticos, supermercados, móveis, veículos.

 Pesquisas mostram que o consumidor usou o dinheiro das contas inativas do FGTS para quitar dívidas. Isso vai dar alívio nas finanças das famílias, que podem voltar a comprar.

Com a queda da Selic para um patamar mais baixo, o que está previsto para o ano que vem, as perspectivas de retomada para o varejo são mais fortes.

Neste cenário estão considerados o  avanço das reformas, manutenção das condições financeiras, e taxa de câmbio comportada. As incertezas políticas são um risco para o avanço das reformas, que é fundamental para o cenário de recuperação ficar consistente.

Emílio Alfieri, economista da ACSP

A perspectiva é boa, pois a cada mês surge um dado novo para fortalecer a ideia de que a economia está saindo da recessão e a perspectiva é favorável, principalmente para os lojistas que vendem produtos de primeira necessidade, que dependem de salário.

Bens de maior valor, comprados em parcelas, devem demorar mais para reagir. É bom lembrar que em abril, maio e junho houve reação no comércio devido aos saques das contas inativas do FGTS.Daqui para a frente a reação vai depender mais da queda dos juros e da inflação.

De qualquer maneira, com massa salarial crescendo entre 2% e 2,5%, podemos esperar que as vendas fluam mais que no ano passado. O pior o já passou, mas ainda é preciso ter cautela quando se fala em retomada.

 

Diário do Comércio

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