O Governo anunciou que a partir de 2020 o trabalhador poderá sacar anualmente uma parte do FGTS, se assim desejar. Quem fizer isso, não poderá retirar o saldo total da conta se for demitido sem justa causa. Só recebe a multa de 40% do FGTS, que não muda. Para especialistas em educação financeira consultados pelo UOL, nem sempre o melhor será optar pela nova modalidade. Depende da situação econômica, do perfil e dos objetivos de cada um. Eles dão dicas de como usar melhor esse dinheiro que ficará disponível. Confira as possibilidades.
-Não torre nas compras
Para os que optarem por sacar o dinheiro, os especialistas afirmam que o melhor é colocá-lo em outra reserva, usada para algum objetivo de longo prazo. A pior opção é torrar nas compras supérfluas e sem planejamento. “Esse dinheiro, do FGTS, é uma reserva para o futuro
-para o imóvel, para a aposentadoria. É preciso olhar para ele com mais carinho. Ideal é não retirar para consumo, mas para realizar sonhos e objetivos”, afirma a planejadora financeira Myrian Lund, professora da FGV. “A procedência desse dinheiro é de uma reserva, não é um bônus extra. Nada melhor do que pegar e canalizar para outra reserva. Mesmo que seja para realizar um sonho de curto prazo,segundo Reinaldo Domingos, presidente da Educação Financeira Dsop.
O presidente do Dsop diz que essa reserva tem que ter um “carimbo”, ou seja, uma destinação clara que a pessoa queira dar para aquele dinheiro no futuro. Pode ser de curto, médio ou longo prazo, como um videogame para o filho, uma viagem, um carro, uma casa ou a aposentadoria. O importante é ter isso definido porque, caso contrário, perde-se o estímulo para continuar poupando e a reserva acaba sendo gasta de uma maneira menos significativa ou sem necessidade, de acordo com ele.
– Outros investimentos
Com a medida do saque anual, o governo anunciou também que irá distribuir 100% dos lucros do FGTS. Atualmente, são são distribuídos 50%. Assim, o rendimento anual ao trabalhador também passa a ser maior. Myrian Lund projeta que, com a nova distribuição, o FGTS deve superar a inflação e mesmo aplicações mais conservadoras, que rendem menos, como a poupança. Além disso, outros investimentos possuem taxas administrativas que podem não compensar, em comparação com o fundo. Assim, será necessário calcular com cuidado qual aplicação é mais vantajosa. Para o trabalhador que não tem muita intimidade com investimentos ou possui um perfil menos precavido e poupador, ela recomenda que deixe o dinheiro no FGTS. “A partir do momento que tem uma reserva que está rendendo mais do que a inflação, deixa o dinheiro quieto, porque [se retirar] vai fazer falta no futuro”, afirma. Ela lembra que apenas uma parcela do FGTS poderá ser sacada anualmente, e, quanto mais dinheiro tiver no fundo, menor será a fatia que poderá ser retirada. A planejadora financeira faz um alerta, ainda, a quem escolhe investimentos que deixam o dinheiro disponível para saque com maior facilidade, como a poupança. Eles podem gerar a tentação de usá-lo indiscriminadamente, atrapalhando o objetivo de poupar, se a pessoa não tiver planejamento e controle.
– Pagar dívidas
Reinaldo Domingos afirma que o pagamento de dívidas é um bom uso para o valor sacado, mas apenas se elas forem quitadas. Se a dívida estiver sob controle e for muito maior do que o dinheiro que retirar do FGTS, não vale tanto a pena. “Vai amortizar, o dinheiro vira pó, e continua com o problema (da dívida).” Para quem está com a situação muito ruim, não conseguindo honrar os compromissos e com o nome sujo na praça, Domingos aconselha a entrar em contato com o credor e tentar usar o dinheiro do FGTS para quitar os débitos, renegociando a dívida.
Cuidado com demissão
Quem optar pelo saque anual não poderá sacar o saldo total da conta se for demitido sem justa causa. Só recebe a multa de 40% do FGTS, que não muda. Os especialistas alertam, portanto, que o saque anual pode deixar a pessoa desprotegida em caso de demissão. Por isso a reserva é importante, seja no FGTS ou em outra aplicação. Se escolher o “saque aniversário” e mudar de ideia, poderá voltar à modalidade anterior para retirar todo o fundo na demissão, mas só depois de dois anos.
Fonte: Ricardo Marchesan
Do UOL, em São Paulo