Programado para começar a operar para o público em geral no próximo dia 16, o Pix, novo sistema de pagamento instantâneo, já está funcionando em fase restrita, para um pequeno grupo de clientes.
Desde que foi divulgada, a nova modalidade entrou no radar de quem tem e-commerce pelo potencial que possui de simplificar o processo de venda, aumentando a taxa de conversão.
Quem gere uma loja virtual que aceita pagamentos com cartão de crédito ou débito sabe que pode demorar até um mês para ter o valor disponível no caixa do negócio. Ou seja, a perspectiva de fluxo de caixa nem sempre pode ser considerada em sua totalidade.
Com o Pix, quem vende um produto recebe o dinheiro na hora e quem paga não precisa arcar com taxas extras de boleto ou transferência. A dinâmica é similar aos conhecidos TED e DOC, mas com algumas diferenças bem importantes.
Para começar, quem envia o dinheiro não paga nenhuma taxa extra ao utilizar o serviço. E, enquanto com TED ou DOC o dinheiro pode demorar até o próximo dia útil para cair na conta de destino, com o Pix isso acontece em até 10 segundos. Além disso, a movimentação financeira é realizada 7 dias por semana, 24 horas por dia, inclusive aos feriados.
A ferramenta já nasceu no contexto das novas tecnologias e implementar essa mudança no seu e-commerce pode melhorar tanto a experiência dos consumidores quanto da empresa. Em entrevista ao Diário do Comércio, Ralf Germer, CEO e cofundador da PagBrasil, fintech de pagamentos para e-commerce, explica o porquê disso.
Diário do Comércio – A pandemia provocou uma aceleração enorme no mercado de e-commerce. O Pix pode ser mais um marco nesse sentido?
Ralf Germer – Sim. No médio e longo prazo, o Pix será um marco importante no e-commerce porque ajuda a incluir mais pessoas no ambiente digital e facilita os pagamentos. O fato mais relevante é não ser mais necessário ter conta bancária para fazer uma compra, já que será possível utilizar uma carteira digital. Além disso, realizar um pagamento na loja virtual com o Pix será extremamente simples e intuitivo: basta escanear um código QR com o seu smartphone ou, no caso das compras mobile, escolher um aplicativo compatível com o Pix para pagar.
DC – Quais lacunas deixadas pelos boletos, crédito, débito e carteiras digitais o Pix consegue atender?
RF – A confirmação instantânea do pagamento é a principal lacuna que o Pix atende em relação ao boleto. E o efeito dessa confirmação acelerada é uma melhor experiência de pagamento no e-commerce, já que o produto é liberado para entrega rapidamente, acelerando o processo de envio. Já o Pix e o cartão de crédito vão coexistir, mas, em alguns segmentos, o Pix vai concorrer em razão do custo e facilidade de pagamento, especialmente no ambiente mobile. Por outro lado, o cartão de crédito ainda possui vantagens muito relevantes, como a possibilidade de adiar o pagamento da compra para a data de vencimento da fatura, o parcelamento, e a compatibilidade com soluções como Samsung Pay e Apple Pay, que trazem mais comodidade para o usuário.
O cartão de débito será um meio de pagamento muito afetado, tanto nas compras físicas quanto on-line. No caso das compras físicas, o Pix concorre com o cartão de débito porque o custo para o lojista é mais baixo – além de também não exigir necessariamente o uso da maquininha de cartão.
No e-commerce, é a experiência de pagamento que faz toda a diferença: hoje, o cartão de débito não é amplamente utilizado no e-commerce, pois ao optar por essa forma de pagamento, o usuário é redirecionado para a página do banco, e isso afeta a experiência e por consequência, as conversões. O Pix permitirá uma experiência mais fluída, sem fricções.
Já para as carteiras digitais, o Pix é uma oportunidade. Como as fintechs também poderão oferecer esse meio de pagamento, essas instituições financeiras têm em mãos mais um recurso para incentivar o uso das suas carteiras digitais.
DC – O senhor concorda que a instantaneidade é a principal revolução do Pix? Quais problemas esse imediatismo também pode trazer aos lojistas?
RF – A instantaneidade é uma das principais revoluções, aliada à confirmação do pagamento em menos de dez segundos, o custo baixo e a simplicidade de uso. Além disso, o fato de se tratar de um arranjo de pagamento aberto também é uma grande revolução, visto que todos os bancos e praticamente todas as carteiras digitais estarão conectados. Gosto de dizer que o Pix é mais que um meio de pagamento, é uma plataforma. As possibilidades são tantas, que sequer podemos imaginar até agora. O problema desse imediatismo para os bancos, carteiras virtuais e lojistas está nas fraudes. Como o pagamento é instantâneo, a detecção da fraude precisa ser igualmente ágil. A boa notícia é que empresas especialistas em antifraude já trabalham com uma tecnologia muito sofisticada, visando atender essas questões.
DC – A proximidade do lançamento do Pix com a Black Friday pode, de fato, gerar impactos nos resultados da data?
RF – No comércio físico, pode ser que o Pix esteja preparado para atender a demanda da Black Friday e traga um impacto positivo, já que incentiva compras por impulso. Mas no e-commerce, o novo meio de pagamento talvez seja recente demais para ser implementado para a mais importante data do varejo – que este ano, está mais digital do que nunca. Essa é uma época em que o lojista precisa ter cuidado redobrado para atender a elevada demanda e por isso é fundamental que todas as funcionalidades no seu site – e especialmente no checkout – estejam amplamente testados e 100% operacionais.
DC – Passará a ser vantajoso para o lojista excluir a opção de boleto, que muitas vezes acaba não sendo pago?
RF – Não. O boleto bancário continua sendo um meio de pagamento muito presente na vida do brasileiro e uma das melhores alternativas para aqueles que recebem pagamentos em espécie – como trabalhadores informais, profissionais autônomos e até mesmo trabalhadores com carteira assinada que recebem parte ou todo o seu salário em dinheiro. Pense bem: mesmo com todos os benefícios do Pix, não é muito mais prático para quem recebe em dinheiro ir até o banco ou lotérica pagar o boleto de uma compra em vez de fazer um depósito no caixa para somente depois fazer um Pix? Além disso, o boleto bancário é um meio de pagamento muito simples e seguro também para quem tem conta em banco e pode ser pago por qualquer pessoa – mesmo quem não tem Pix. A substituição desse meio de pagamento pelo Pix pode acontecer, mas num futuro um pouco mais distante.
DC – De que forma o varejista deve se organizar para oferecer a novidade?
RF – O primeiro passo é procurar uma processadora de pagamentos que esteja preparada para oferecer essa solução. Caso o lojista já trabalhe com uma empresa que processe pagamentos, a dica é trocar uma ideia para saber quando a solução estará disponível.
Fonte: Diário do Comércio