Analistas do mercado financeiro revisaram para cima, pela terceira semana seguida, a estimativa de crescimento da economia brasileira. Segundo o Boletim Focus, o Produto Interno Bruto (PIB) deve fechar o ano em 3,21%, acima dos 3,14% projetados na semana passada e dos 3,08% há um mês. No início de 2021, entretanto, o mercado chegou a estimar alta de 3,50%. Os dados são do relatório Focus, divulgados nesta segunda-feira, 10.
A magnitude da pandemia no país e a vacinação, que até então caminhava a passos lentos, pesam nas estimativas. Com o andamento da campanha de imunização e restrição menor de estados e municípios, foi aberto espaço para uma perspectiva melhor. Vale lembrar que dados de atividade econômica nos dois primeiros meses do ano também vieram acima de estimativas, o que contribui para a projeção de um desempenho melhor.
A estimativa do mercado financeiro é mais tímida que a de agentes internacionais. O FMI, por exemplo, vê crescimento de 3,7% na economia brasileira após o choque de -4,1% em 2020. Para 2022, o mercado subiu a previsão de alta do PIB de 2,31% para 2,33%.
Vale lembrar que a volta da atividade econômica depende do andamento das reformas, essencial para melhorar o ambiente de negócios e para destravar investimentos, estimulando assim a recuperação. Há sinalizações do Congresso sobre reforma administrativa, que deve ter o relatório apresentado nesta semana. A tributária, que teve parecer lido, foi alvo de uma manobra do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que dissolveu a comissão. Com isso, o relatório deixou de ter validade, abrindo espaço para reformas via projeto de lei, como deseja o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Inflação – Além do PIB, o mercado também reviu a perspectiva para inflação. Segundo o relatório Focus, o IPCA deve fechar o ano em 5,06% acima do centro da meta de 3,75% e perto da margem de tolerância, que vai até 5,25%. É a quinta alta seguida nas projeções do indicador.
O aumento nos preços fez com que o Comitê de Política Monetária elevasse mais uma vez a taxa básica de juros, a Selic, em 3,50% ao ano, para tentar conter a subida de preços. A projeção para a inflação fica acima da inflação acumulada em 2020, de 4,52%, e a estimativa para 2022 está 3,61%, acima dos 3,50% do centro da meta objetivados para o próximo ano.
A inflação serve como um termômetro da economia e diversas variantes a afetam. Em abril, com a estabilização maior no preço dos combustíveis e até algumas quedas dos preços nas refinarias definidas pela Petrobras, a pressão inflacionária foi menor, mas ainda é relevante. O IPCA-15, que mede a prévia da inflação, subiu 0,60%, menos que os 0,93% no período anterior, mas trouxe alta maior nos preços dos alimentos, os “vilões” da inflação de 2020. O IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas, ficou em 1,51% no mês, abaixo dos 2,94% de março.
Apesar do sinal de desaceleração, a inflação acumulada em 12 meses é alta. No caso da prévia da inflação oficial, de 6,20%. Em maio, é estimada uma nova pressão, vinda de preços administrados de habitação, com alta já anunciada de 40% do gás encanado e bandeira tarifária vermelha para a energia no mês. O IPCA de abril deve ser divulgado nesta terça-feira, 11, assim como a ata da reunião do Copom.
A subida dos juros é uma estratégia de política monetária utilizada em casos de inflação alta porque desestimula o consumo. Com a Selic mais alta, o valor do crédito sobe. Porém, o cenário é complexo para o país. Com atividade econômica fraca e risco fiscal elevado, o remédio é amargo. O risco é a chamada estagflação — combinação temerária de estagnação econômica com inflação, um dos pesadelos dos economistas. Além da inflação, o BC também é guardião da moeda. Segundo o Boletim Focus dessa segunda, o dólar deve encerrar o ano a 5,35 reais, abaixo dos 5,40 reais projetados na semana passada pelos analistas. Na sexta-feira, a moeda registrou queda, chegando a 5,23 reais.
Fonte: Veja.com