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Financiar clientes ajudou grandes redes a crescer na crise

O varejo de vestuário e calçados foi um dos setores que mais sofreram com a crise. Em 2015, a receita nominal de lojas especializadas em roupas e sapatos teve queda de 5,1% ante crescimento de 3,2% do comércio em geral, de acordo com a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), realizada pelo IBGE.
No primeiro semestre deste ano, esse desempenho se manteve. A receita nominal do varejo de vestuário caiu 5,6% e a do comércio em geral cresceu 4,5%. 

Descontada a inflação do período, todos os setores praticamente registraram queda de faturamento e o comércio de vestuário e calçados foi, igualmente, um dos mais atingidos pela recessão junto com o de móveis e eletrodomésticos.

Um grupo formado por sete das maiores redes de vestuário e calçados do país, com ações negociadas em Bolsa, porém, tem algo para comemorar neste último um ano e meio de crise.

Renner, Riachuelo, Marisa, Grazziotin, Arezzo, Hering e Restoque (Le Lis Blanc, Dudalina e Rosa Chá) ganharam participação de mercado no período.

O faturamento nominal desses redes, de R$ 20,7 bilhões, em 2015, subiu 6,7% no ano passado e 2,4% no primeiro semestre deste ano. Como base de comparação, a receita nominal do varejo de vestuário e calçados caiu 5,1% e 5,6%, respectivamente, no período.

Renner e Riachuelo puxaram para cima o desempenho do grupo das sete varejistas. O faturamento nominal da Renner subiu 17,5% em 2015 e 6,6% no primeiro semestre de 2016 e o da Riachuelo, 8,3% e 4,6%, respectivamente.

Com esses números, a participação do grupo das sete empresas subiu de 12,2% em 2014 para 13,7% em 2015, devendo superar 14% neste ano, em um mercado de cerca de R$ 151 bilhões. (Veja no quadro abaixo os percentuais dos últimos cinco anos)

Para Vitor França, consultor da Boanerges & Cia, consultoria especializada em varejo financeiro, responsável pelo estudo, essas redes acabaram se beneficiando com a crise. A razão principal, segundo ele, é o fato de oferecerem serviços financeiros para os clientes.

“Elas ajudaram os consumidores a manter o poder de compra por meio da oferta de cartão de crédito próprio, que participa com quase 50% da receita da Renner e da Riachuelo, seja com os planos de cinco meses sem juros ou oito meses com juros”, diz França.

Com o orçamento apertado e o crédito restrito, o consumidor fica quase sem opção de compra. As empresas que oferecem maior prazo de financiamento e menor custo financeiro acabam ganhando a preferência da clientela.

Outro levantamento, com base em volume de vendas, também revela o aumento de participação das grandes redes no varejo de vestuário.

 De 2009 a 2015, o volume de peças vendidas em todas as lojas do setor subiu 7,2%, de 5,7 bilhões para 6,1 bilhões de unidades, de acordo com o IEMI, consultoria especializada no setor.

No mesmo período, o volume comercializado pelas grandes redes subiu 14,1%. Nas lojas independentes, as chamadas butiques, houve queda de 2,2% no volume vendido, no período.

Para Marcelo Prado, diretor do IEMI, o crescimento das grandes redes de 2009 a 2015 está diretamente vinculada à expansão deshopping centers, que concentram cerca de 60% dos pontos de venda de vestuário no país.

Além disso, diz ele, muitas redes que comercializam roupas cresceram porque receberam investimentos de fundos estrangeiros.

É este o caso da Restoque, com faturamento anual superior a R$ 1 bilhão. Três fundos participam da empresa: o brasileiro Artesia e os americanos Advent e Warburg Pincus.

O pequeno comércio de vestuário e calçados vai ter de abusar de criatividade para atrair os clientes. Se não, vai continuar sendo obrigado a fechar as portas.

Basta andar pelas ruas de comércio para ver que as placas de "vendo", "alugo" ou "passo o ponto" estão se multiplicando.  

“É um desafio para o pequeno lidar com a força das grandes redes", diz França. "São marcas mais presentes na mente do cliente, além de oferecer serviços e produtos a que os pequenos não estão acostumados”, diz França.

O pequeno varejista tem a seu favor, porém, a possibilidade de explorar a proximidade com a clientela até porque, geralmente, é ele quem toca o negócio, relaciona-se com o consumidor diretamente no dia a dia e está familiarizado com suas preferências.

O varejo de roupas e calçados, de qualquer forma, de acordo com França, é muito pulverizado e, portanto, há espaço para crescer, principalmente nas ruas. “Vejo que a tendência, em grandes cidades, é o comércio de rua ganhar força por questão de mobilidade.”

As grandes redes, a seu ver, deverão prosseguir seu processo de expansão nos shoppings.

Nos shoppings ou nas ruas, de acordo com França, o comércio em geral de roupas e calçados deve continuar encolhendo.

Em 2015, as vendas de roupas e calçados somaram R$ 151,2 bilhões,  R$ 8,2 bilhões a menos do que em 2014. A previsão do consultor é de uma queda de mais 5% neste ano. Veja abaixo o desempenho do setor desde 2007

 

Diário do Comércio

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