As famílias e as empresas brasileiras pagaram R$ 463 bilhões em juros em 2016, o equivalente a 7,16% do Produto Interno Bruto (PIB). Em termos reais, ou seja já descontada a inflação do período, o valor é 28,3% maior em relação ao montante pago em 2013.
O cálculo foi feito no estudo "Juros e Inadimplência no Brasil 2014-2016" realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), com base nos dados do Banco Central, e divulgado nessa terça-feira (21).
De acordo com a Fecomercio SP, essa alta ocorreu num período de recessão econômica e de redução na oferta de empréstimos. Entre 2013 e 2016, o volume de crédito com recursos livres (pessoa física e pessoa jurídica) caiu 17,4% em termos reais.
Para a FecomercioSP, o período de maior recessão da história do país (de 2014 a 2016) gerou impactos sobre os mais diversos aspectos da economia, resultando em dívida pública crescente e de magnitude crítica; inflação; desemprego e redução dos investimentos.
"Além disso, a necessidade de elevação sistemática da taxa de juros como instrumento de controle inflacionário e, principalmente, de captação de recursos para rolagem da dívida pública muito acima dos padrões aceitáveis para uma economia saudável gerou impactos financeiros diretos sobre a saúde das empresas e sobre a renda das famílias.
Do total de juros pago, a maior parte veio das famílias, que pagaram R$ 288,3 bilhões em 2016 – 4,46% do PIB. As empresas desembolsaram R$ 174,7 bilhões, o equivalente 2,7% do PIB. O valor total da inadimplência das famílias e empresas no fim de 2016 alcançou R$ 89,2 bilhões, 1,4% do PIB. A inadimplência das empresas ficou em R$ 39,6 bilhões, um aumento real de 33,5% no período.
"Mesmo diante dessas circunstâncias, em 2016, o setor privado conseguiu manter certo controle sobre seus níveis de inadimplência, que haviam crescido muito em 2015, quando chegou a R$ 40 bilhões", diz em nota a FecomercioSP.
A taxa de inadimplência das famílias saltou de 5,3% em dezembro de 2014 para 6,1% em 2016. Em termos absolutos, isso significa que a inadimplência das famílias brasileiras passou de R$ 53,9 bilhões no fim de 2013 para R$ 49,6 bilhões em dezembro de 2016.
Para a Federação, o custo elevado do crédito no Brasil é decorrente das altas taxas de juros praticadas, consequência direta do descontrole das contas públicas, "que se refletem em uma dívida gigantesca que, em meio a crescente perda de confiança dos agentes econômicos, necessita ser financiada diariamente no mercado, com juros elevados pelo risco de descontrole". Isso também torna o setor público o maior tomador de crédito, de acordo com a FecomercioSP, no qual os recursos são escassos, colaborando para fixação de um piso elevado para todos os demais tomadores.
Em junho de 2016, a dívida pública bruta atingiu R$ 4,7 trilhões, correspondentes a 73% do PIB. Para a Federação, uma dívida pública dessa dimensão exerce pressão na fixação dos juros na economia. Na avaliação da entidade, com uma dívida pública menor, a taxa de juros necessária para seu financiamento também seria proporcionalmente inferior ao dos patamares atuais.
Revista PEGN