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Crescimento do varejo viabiliza novo corte da Selic

O crescimento do varejo brasileiro em janeiro, em conjunto com o último dado de inflação do IPCA, abre espaço para mais um corte da taxa básica de juros na próxima reunião do Copom, dias 20 e 21/3.

 

Essa é a avaliação de Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), a respeito da divulgação do desempenho do comércio nacional feita hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

“Nota-se claramente que a recuperação do consumo não está pressionando a inflação. E a ociosidade da indústria ainda é muito grande. Logo, é possível reduzir mais os juros”, diz Burti, acrescentando que fatores como eleições e câmbio também poderão impactar na definição da taxa Selic.

 

O presidente da ACSP destaca o desempenho do ramo de supermercados, em decorrência da queda do preço dos alimentos e do aumento da massa salarial, e também dos segmentos de móveis, eletrodomésticos, materiais de construção e automóveis, que se beneficiam da melhora das condições de tomada de crédito.

 

Ele afirma que o varejo registrará níveis de crescimento ainda maiores ao longo de 2018, em função principalmente da base fraca de comparação. “O varejo está se recuperando, mas é lenta, visto que o setor caiu praticamente 12% nos últimos dois anos”.

 

Analistas

O desempenho do varejo em janeiro indica que o consumo segue em recuperação, após os dados fracos do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre. Contudo, esse processo ainda é moderado, de acordo com economistas.

 

Os especialistas afirmam que a expectativa é positiva para o comércio varejista em função da esperada queda do desemprego, além da inflação e do juro baixos. Assim, o volume de vendas deve crescer em torno de 3% no caso do varejo restrito e de 4% no ampliado este ano.  

 

A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou aumento de 0,9% no varejo restrito em janeiro ante dezembro com ajuste sazonal.

 

O dado superou a mediana de 0,50% do Projeções Broadcast, mas ficou dentro do intervalo de zero a 2,30%. No caso do varejo ampliado, houve leve queda de 0,1%, que ficou abaixo da mediana de alta de 0,05%, com as expectativas indo de -2,20% a 1,70%.

 

Mesmo o segundo recuo seguido no varejo ampliado não indica uma suspensão da recuperação do consumo, avalia o economista Alejandro Padron, da 4E Consultoria, uma vez que quase todos os componentes da pesquisa cresceram na comparação com janeiro de 2017.

 

Segundo ele, não houve surpresa com o declínio na margem porque eram esperados ajustes após a alta forte de 2,4% em novembro.

 

"Essas taxas perto da estabilidade e oscilando não surpreendem. Não esperamos um boom para o consumo este ano. Os dados do varejo também não mudam a trajetória de retomada", acrescenta Padron.

 

Revisão

Os dados do varejo em janeiro ainda foram influenciados pela revisão realizada nos resultados anteriores, lembra Isabela Tavares, analista da Tendências Consultoria Integrada. Em dezembro, a queda do varejo restrito passou de 1,5% para 0,5%, enquanto no varejo ampliado houve mudança de -0,8% para -0,4%.

 

De acordo com Isabella Nunes, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, as revisões foram motivadas pelo ajuste sazonal e pela entrada de novas informações fornecidas pelos participantes da pesquisa, especialmente os da atividade de supermercados.

 

"Se não fosse a revisão, o número de janeiro poderia ter sido maior, diz a analista da Tendências, ponderando que a primeira taxa de 2018 já compensou o resultado fraco de dezembro.

 

"A decepção com os dados do quarto trimestre, principalmente com dezembro, está sendo compensada, o que traz alívio que o consumo continua em recuperação no início deste ano." A consultoria espera avanço de 3,2% do varejo restrito e de 4,7% do varejo ampliado em 2018.

 

No Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre, o consumo das famílias cresceu apenas 0,1% ante o terceiro trimestre, representando uma desaceleração das taxas de 1,1% e 1,2% registradas nos trimestres imediatamente anteriores.

 

Para o PIB do primeiro trimestre ante o período de outubro a dezembro, o economista-sênior do Haitong, Flávio Serrano, estima que a inclusão de novas informações na PMC pode contribuir para um melhor desempenho do consumo das famílias.

 

Segundo Serrano, a PMC de janeiro não mudou o quadro da atividade, que é de recuperação moderada. Porém, Serrano diz que, com a queda do desemprego e consequente aumento da massa de rendimentos, além do efeito da redução dos juros, os segmentos "começam a esboçar crescimento mais consistente".

 

De maneira geral, o varejo ampliado ainda está 14% abaixo do pico alcançando em agosto de 2012, segundo o economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Já o varejo restrito está 8,9% abaixo do pico atingido em outubro de 2014.

 

"Apesar das leituras relativamente fracas em dezembro/janeiro, a perspectiva para o consumo e para as vendas do varejo permanecem positivas", avalia Ramos, citando a inflação de alimentos e em geral comportada, a crescente ocupação, as melhores condições de crédito e a confiança do consumidor.

 

 

Diário do Comércio

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