A crise provocada pelo novo coronavírus fez com que o turismo perdesse 35,5 mil estabelecimentos – com vínculos empregatícios – em 2020, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O saldo negativo corresponde à maior perda anual desde 2016, quando o Brasil ainda sofria os efeitos da recessão, e representa um recuo de 13,9% em relação ao total de unidades em operação no País, em 2019.
A pandemia de covid-19 afetou estabelecimentos de todos os portes, mas os que mais sofreram perdas foram os micro (-19,28 mil) e pequenos (-11,45 mil) negócios. Juntos, eles responderam por 87% do total de pontos perdidos no último ano. Regionalmente, todas as unidades da Federação apresentaram redução do número de unidades ofertantes de serviços turísticos, com maior incidência em São Paulo (-10,9 mil), Minas Gerais (-4,1 mil), Rio de Janeiro (-3,7 mil) e Paraná (-2,6 mil).
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, reforça que o segmento de turismo foi o mais afetado pela queda do nível de atividade econômica ao longo do ano passado. “Esta grave crise econômico-sanitária provocou uma retração significativa na demanda por serviços não essenciais em 2020. Infelizmente, não há, no momento, expectativas de reversão para o setor no curto prazo”, afirma Tadros, ressaltando a urgência de acelerar a vacinação dos brasileiros.
Turistas estrangeiros gastam menos
Fabio Bentes, economista da CNC responsável pelo estudo, chama a atenção para o fato de que nem mesmo a desvalorização de 29% do real no ano passado, que, em situações normais, estimularia o turismo interno, evitou perdas expressivas para o setor. “Internamente, a recessão promoveu uma realocação de gastos em favor de bens e serviços essenciais. A demanda externa, por sua vez, esbarrou nos protocolos caracterizados por severas restrições ao fluxo turístico internacional”, destaca Bentes. O volume de gastos dos turistas estrangeiros no Brasil em 2020 (3 bilhões) representou a metade dos gastos totais em 2019 (R$ 6 bilhões) – o menor volume registrado desde 2003, segundo o Banco Central.
Todos os segmentos turísticos registraram saldos negativos, com destaque para os serviços de alimentação fora do domicílio, como bares e restaurantes (-28,61 mil); os de hospedagem em hotéis, pousadas e similares (-3,04 mil); e os de agências de viagem (-1,39 mil).
Diretor da CNC responsável pelo Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur) da entidade, Alexandre Sampaio compara as perdas do segmento com as de outros setores da economia. “O turismo terminou 2020 com o nível de faturamento 30% abaixo do patamar verificado antes da pandemia, enquanto a indústria, por exemplo, fechou o ano passado com nível de atividade 3% acima”, diz Sampaio, reforçando a necessidade de extensão das medidas emergenciais por parte do governo.
O contraste do turismo com as demais atividades econômicas também aparece na análise do nível de ocupação formal. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 397 mil postos formais de trabalho foram eliminados no setor em 2020, representando um encolhimento de 12,8%. Na média de todos os setores da economia, porém, a variação relativa ao estoque de pessoas formalmente ocupadas avançou 0,4% no mesmo período.