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Copom decide manter Selic em 14,25% ao ano

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 14,25% ao ano em reunião realizada nesta quarta­-feira. A decisão veio em linha com o esperado pelo mercado. 

 
No comunicado, o colegiado deixou de falar que “o cenário básico e o atual balanço de riscos indicam não haver espaço para flexibilização da política monetária”. Agora, o Banco Central (BC) lista uma série de fatores que têm de ser acompanhados para que se pense em uma redução da Selic, que está estacionada em 14,25% ao ano desde setembro de 2015, maior período de estabilidade desde a introdução do regime de metas em 1999. 
 
Como o próximo encontro está previsto para outubro, o intervalo de tempo para que tais condições sejam atendidas parece relativamente curto, o que pode levar o mercado a rever as expectativas com relação ao início de um ciclo de corte nessa reunião. 
 
“O comitê avalia que uma flexibilização das condições monetárias dependerá de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a inflação nos horizontes relevantes para a condução da política monetária, em particular da meta de 4,5% em 2017”, diz o comunicado. 
 
O Banco Central lista três fatores domésticos que serão avaliados de forma conjunta. São eles: que a persistência dos efeitos do choque de alimentos na inflação seja limitada; que os componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica indiquem desinflação em velocidade adequada. E que ocorra redução da incerteza sobre a aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia, incluindo a composição das medidas de ajuste fiscal, e seus respectivos impactos sobre a inflação. 
 
Segundo o colegiado, a inflação corrente segue pressionada, em parte em decorrência de preços de alimentos, e vem recuando em ritmo mais lento que o esperado. As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus para 2017 recuaram desde o último Copom, mas seguem acima da meta para a inflação, de 4,5%. “As expectativas para horizontes mais distantes já se encontram em torno desse patamar”, diz o comunicado. 
 
Na apresentação das projeções, o Copom aponta que, para 2016 nos cenários de referência e de mercado, as projeções subiram desde a última reunião, em julho, e encontram-­se em torno de 7,3%. Mas que, nos horizontes relevantes para a condução da política monetária, as projeções mantiveram­-se relativamente estáveis ou recuaram. O chamado horizonte relevante é uma janela de dois anos para frente. 
 
Considerando o cenário de referência, que é o do próprio BC, a projeção para a inflação de 2017 encontra­-se em torno da meta de 4,5%. Já no cenário de mercado a projeção para 2017 recuou para 5,1%, em comparação com 5,3% visto no Copom de julho. 
 
Feita a avaliação das projeções, o BC apresenta o balanço de riscos para a inflação. No lado negativo, os fatores apontados são os mesmos citados em julho. A inflação acima do esperado no curto prazo, em boa medida decorrente de preços de alimentos, poder se mostrar persistente. Também são citadas as incertezas, que permanecem, quanto à aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia. O Copom também volta a lembrar que um período prolongado com inflação alta e com expectativas acima da meta pode reforçar mecanismos inerciais e retardar o processo de desinflação. 
 
No outro lado do balanço, o BC passa a falar que os índices de preços no atacado indicam possível arrefecimento do choque de preços de alimentos e um eventual efeito favorável sobre o IPCA. Também é repetida a possibilidade de que os ajustes na economia podem ser implementados de forma mais célere, o que permitiria ganhos de confiança e reduziria as expectativas de inflação. Mais um ponto favorável no balanço é o nível de ociosidade na economia, que pode produzir desinflação mais rápida do que a refletida nas projeções do colegiado. 
 
Na avaliação sobre a atividade doméstica, o BC aponta a existência de evidências de que a economia tenha se estabilizado recentemente e fala em “sinais de possível retomada gradual”. Em julho, o BC falou em “perspectiva de estabilização da atividade econômica no curto prazo”. O BC afirmou que a economia segue operando com alto nível de ociosidade ao invés de falar que as evidências sugeriam esse alto nível de ociosidade. 
 
Na parte dedicada ao ambiente externo, o Copom fala que o cenário ainda apresenta “interregno benigno” para economias emergentes. Somando avaliação recentemente feita pelo presidente Ilan Goldfajn. Em julho, a avaliação era de um cenário desafiador com ambiente relativamente benigno. 
 
No entanto, pondera o colegiado, as incertezas sobre o crescimento da economia global e, especialmente, sobre a normalização das condições monetárias nos EUA persistem. A avaliação anterior era de que a dinâmica da recuperação da economia global permanecia frágil, com incertezas quanto ao seu crescimento. 
 
Veja a íntegra do comunicado: 
 
O Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés. 
 
O cenário básico com que o Comitê trabalha pode ser resumido pelas seguintes observações: 
 
O conjunto dos indicadores divulgados desde a última reunião do Copom mostra evidências de que a economia brasileira tenha se estabilizado recentemente e sinais de possível retomada gradual da atividade econômica. A economia segue operando com alto nível de ociosidade; 
 
No âmbito externo, o cenário ainda apresenta interregno benigno para economias emergentes. No entanto, as incertezas sobre o crescimento da economia global e, especialmente, sobre a normalização das condições monetárias nos EUA persistem; 
 
A inflação corrente segue pressionada, em parte em decorrência de preços de alimentos, e vem recuando em ritmo mais lento que o esperado; 
 
As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus para 2017 recuaram desde o último Copom, mas seguem acima da meta para a inflação, de 4,5%. As expectativas para horizontes mais distantes já se encontram em torno desse patamar; e 
 
As projeções do Copom para a inflação de 2016 nos cenários de referência e mercado subiram desde sua última reunião e encontram­se em torno de 7,3%. Nos horizontes relevantes para a condução da política monetária, as projeções mantiveram­se relativamente estáveis ou recuaram. Em particular, sob as hipóteses do cenário de referência, a projeção para a inflação de 2017 encontra­se em torno da meta de 4,5%. No cenário de mercado, a projeção para 2017 recuou para 5,1%. 
 
O Comitê identifica os seguintes riscos domésticos para o cenário básico para a inflação: 
 
Por um lado, (i) a inflação acima do esperado no curto prazo, em boa medida decorrente de preços de alimentos, pode se mostrar persistente; (ii) incertezas quanto à aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia permanecem; e (iii) um período prolongado com inflação alta e com expectativas acima da meta pode reforçar mecanismos inerciais e retardar o processo de desinflação; 
 
Por outro lado, (iv) índices de preços no atacado indicam possível arrefecimento do choque de preços de alimentos e um eventual efeito favorável sobre o IPCA; (v) os ajustes na economia podem ser implementados de forma mais célere, o que permitiria ganhos de confiança e reduziria as expectativas de inflação; e (vi) o nível de ociosidade na economia pode produzir desinflação mais rápida do que a refletida nas projeções do Copom. 
 
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu pela manutenção da taxa básica de juros em 14,25% a.a., sem viés. O Comitê avalia que uma flexibilização das condições monetárias dependerá de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a inflação nos horizontes relevantes para a condução da política monetária, em particular da meta de 4,5% em 2017. O Comitê destaca os seguintes fatores domésticos: (i) que a persistência dos efeitos do choque de alimentos na inflação seja limitada; (ii) que os componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica indiquem desinflação em velocidade adequada; e (iii) que ocorra redução da incerteza sobre a aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia, incluindo a composição das medidas de ajuste fiscal, e seus respectivos impactos sobre a inflação. O Comitê avaliará a evolução da combinação desses fatores. 
 
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel.

 

Valor Econômico

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