“É importante discutir gestão financeira no momento econômico do Brasil”. Foi com essa fala que o empreendedor e investidor João Kepler abriu o painel “Gestão Administrativa-Financeira: a sua importância para a tomada de decisão”. Ele foi mediador durante o evento da FIESP, em São Paulo, que buscava ajudar empresas com desafios reais em orientações de gestão empresarial. Durante o seminário, o negócio apresentado foi o da Tec-Stam, uma companhia de forjaria e estamparia.
Humberto Gonçalves, fundador da empresa, apresentou algumas das dificuldades que o negócio enfrenta. Especialistas foram então convidados a dar uma breve mentoria para ajudar o empreendedor. Estavam presentes na mesa: Arthur Ridolfo Neto, professor adjunto do departamento de finanças da FGV; Luciano Gilio, coordenador de pós-graduação e MBA da Trevisan; Cesar Nazareno Caselani, professor de finanças-parceiro da Fundação Vanzolini; e Diogo Moreira Carneiro, coordenador de projetos e pesquisas da FIPECAFI.
Em 2018, a empresa faturou R$ 4,4 milhões e tinha como projeção chegar a R$ 6,6 em 2019. Mas, de acordo com o empreendedor, deve chegar no máximo a uma receita semelhante à do ano passado. “O mercado está desaquecido e falta tecnologia para crescermos”, afirmou. Por isso, Gonçalves disse que é provável que o negócio feche o ano com cerca de R$ 2 milhões negativos na conta.
Além disso, o empreendedor enumerou alguns dos problemas que a empresa tem encontrado, como falta de estabilidade de vendas e produção, falta de acesso a linhas de crédito, juros altos, entre outros.
Ridolfo, professor adjunto na FGV, começou a mentoria dizendo que a maioria das empresas passa pelo mesmo problema de Gonçalves – sejam elas grandes ou pequenas. “Todos os empreendedores passam pelas mesmas questões”, disse. Ele salientou também que é importante que negócios como o da Tec-Stam, que financiam a produção para receber o pagamento semanas depois, tenham muito planejamento.
Gilio, da Trevisan, concordou e afirmou ainda que o controle dos dados não deve estar em apenas em um setor, mas sim presente na empresa como um todo. “Todas as decisões têm que ser tomadas com base em informações”, disse. Mas isso não se resolve do dia para a noite. “É preciso comparar os dados do passado para ver o que quer para o futuro”.
Gonçalves garantiu que medidas nesse sentido já estão sendo tomadas e que a empresa está implementando um sistema que mede mais rapidamente o tempo de produção, os custos da mão de obra, faturamento e outras informações. “Estamos investindo nesse programa para ver quais produtos valem a pena produzir e quais não valem”, afirmou.
O professor da Fundação Vanzolini, Cesar Caselani, entretanto, alertou o empreendedor para alguns problemas que essa escolha pode trazer para a gestão. “A escolha de um sistema pode colocar a empresa em uma camisa de força”, disse.
Assim como os outros professores, ele também relembrou a importância do planejamento para uma empresa. “Com um plano, é possível fazer brotar dinheiro dentro da empresa sem precisar de empréstimo”, afirmou. “O setor financeiro não é feito só de números, mas também de uma boa gestão”.
Segundo Carneiro, professor da FIPECAFI, a falta de gestão é o que leva muitos empreendedores a fecharem seus negócios – mais até do que os altos juros e burocracias. “Faltam dados para que eles tomem decisões”, afirmou. Um exemplo dado pelo professor foi o dos custos, que muitas empresas sabem quais são, mas não conhecem suas causas. “É preciso agir antes de o custo ser feito para que ele não apareça”, afirmou.
Em empresas como a Tec-Stam, é importante levar isso em conta, já que a maioria das vendas é feita com customização de algum produto, o que eleva os custos. “Em 2020 já estamos encerrando a produção de algumas peças que custam mais do que valem”, disse Gonçalves.
Fonte: Revista PEGN