Compre do pequeno. Compre de quem faz. Compre local. Cuide de um pequeno negócio. Estes apelos estamparam muitas embalagens durante os primeiros meses de pandemia. Seja um vizinho que faz pão, a pizzaria do bairro ou o açougue mantido por diferentes gerações – todos estão tentando encontrar uma saída para a ausência de clientes.
Por outro lado, forçados a passar menos tempo fora de casa e a evitar aglomerações, os consumidores viram na pandemia um forte apelo à responsabilidade e senso de comunidade.
Muitas campanhas e iniciativas têm como principal argumento a importância de manter os negócios de bairro, que são responsáveis por mais da metade do emprego formal no país. Em dezembro de 2019, o Brasil contava com 15,4 milhões de pequenos negócios, número que responde por 54% dos empregos formais.
Nas redes sociais, os usuários já incorporaram o hábito e de certa forma, se comprometem de tempos em tempos a indicar um microempreendedor nas suas redes. Marcam amigos e pedem para que indiquem outros empreendedores e isso se torna uma espécie de corrente.
O Facebook e o Instagram também criaram ferramentas para que essas publicações ganhem maior alcance – utilizando as hashtags #compredopequeno #compredequemtaperto #comprelocal e outras mais.
Todas essas hashtags retratam um comportamento que parece ser global. Um estudo americano realizado pela Sitecore, empresa de software de gestão digital, mostra que 40% dos consumidores gostariam de reduzir sua dependência da Amazon. E a mudança é mais notável entre os mais jovens.
Outro recorte do material mostra que mais da metade dos compradores da GenZ (53%) quer reduzir as compras da Amazon, seguidos por 49% dos Millenials. Esse mesmo grupo – GenZ (43%) e Millennials (37%) – se sente culpado por fazer compras com a gigante do e-commerce e pensa em eliminar esse hábito.
Entre as razões citadas para querer quebrar esse vínculo estão a compra de itens de baixa qualidade (21%), melhores escolhas de outros varejistas (21%) e o desejo de apoiar outros varejistas (12%).
Esse último – desejo de apoiar outros varejistas – aparece especialmente em consumidores mais jovens com escolhas baseadas em valores, como as práticas trabalhistas de um varejista e a contribuição geral para a sociedade.
O mesmo material destaca que do total gasto em uma compra na Amazon, muito pouco fica na comunidade. Entretanto, gastar a mesma quantidade de dinheiro em uma empresa local, garante que mais da metade do valor circule na comunidade, na forma de salários, impostos e suprimentos comprados.
Ainda de acordo com o estudo, consumidores mais jovens entendem que para manter uma comunidade vibrante, as pessoas precisam mudar parte de seus gastos e passar a consumir localmente – o que mudaria totalmente o quadro econômico de pequenos varejistas afetados pela pandemia.
Enquanto isso, no Canadá, um grupo de mais de cem empresas locais se organizou para fazer frente ao bom desempenho de gigantes como Costco, Amazon e Walmart em meio à pandemia, ao passo que empresas menores fechavam suas portas.
Na tentativa de equilibrar essa disputa, surgiu o “Not Amazon”, um movimento que começou como uma planilha de excel listando negócios locais e se transformou num marketplace que hoje é dividido por cidades, onde é possível ter acesso a pequenas empresas e seu catálogo de produtos com fotos de qualidade e serviço de entrega – atributos, muitas vezes, complexo para alguns comerciantes.
Com mais de 500 mil visualizações de páginas, o site possui mais de 4 mil empresas cadastradas em cidades como Toronto, Calgary, Halifax e Vancouver. Há relatos de comerciantes que viram seu faturamento aumentar em 500%.
Apesar de representarem mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) do Canadá, as pequenas empresas têm sofrido com os efeitos da pandemia. 40% delas relataram demissões e 20% adiaram os pagamentos de aluguel, de acordo com dados do governo.
PEQUENOS NO E-COMMERCE
A ideia de apoiar pequenos negócios já é algo tão presente que grandes marcas também têm se engajado nesse propósito. A campanha #ApoieMarcasLocais, da Rappi, no ar há pouco mais de um mês, surgiu por conta da compreensão de que o momento atual exige espírito de união e colaboração.
Fernando Vilela, CMO do Rappi no Brasil, diz que a ação vai proporcionar diversos benefícios aos consumidores, como descontos de até 40% exclusivos no Rappi, além de uma comunicação para ampliar a visibilidade e a experimentação dessas marcas.
Neste sentido, uma ação da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) indica que a lógica deve se manter para além da pandemia.
Para facilitar a oferta e a procura por itens do varejo de bairro, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) desenvolveu a Vitrine Sampa, plataforma de marketplace gratuita e exclusiva para seus associados alavancarem suas vendas.
Na Vitrine Sampa, o comerciante, lojista ou prestador cadastra seu produto ou serviço em poucos passos e já começa a vender.
“Como entidade representativa do varejo, pensamos em um projeto que pudesse ajudar os pequenos e médios empresários a ingressarem no mundo digital. O projeto amadureceu e hoje se tornou um canal de vendas de produtos e serviços. A Vitrine Sampa vai aproximar os consumidores dos comerciantes de bairro”, diz o vice-presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine, idealizador do projeto.
Para ativar a loja na Vitrine é preciso preencher um cadastro com dados como CNPJ ou código de associado, razão social, contatos telefônico e de e-mail.
Ao finalizar o cadastro, o associado recebe uma confirmação no e-mail informado e já pode começar a anunciar no site. A ACSP diz que a plataforma vai reunir uma grande variedade de produtos, incluindo artigos de vestuário, calçados, eletrônicos, acessórios, móveis, produtos de alimentação e muitos outros.
A expectativa é promover o fortalecimento do negócio de pequenos lojistas, comerciantes, empreendedores e profissionais liberais de diferentes segmentos.
Fonte: Diário do Comércio