A boa gestão do fluxo de caixa é determinante para o sucesso de um pequeno empreendimento comercial.
Afinal, o descasamento entre os pagamentos a fornecedores e o recebimento pelas vendas realizadas no cartão de crédito, por exemplo, pode gerar despesas elevadas com juros e dificuldades financeiras para o estabelecimento.
Ao realizar uma venda no cartão de crédito, o lojista recebe o valor somente após 30 dias. Se a venda for realizada na modalidade parcelado lojista –parcelamento sem juros –, ele receberá o valor da venda também em parcelas mensais.
Um importante aliado do lojista na gestão do fluxo de caixa pode ser o cartão de crédito corporativo – voltado especificamente para as pessoas jurídicas.
Afinal, se o lojista recebe o valor das vendas apenas após 30 dias, ao pagar os fornecedores com cartão de crédito ele também ganha prazo de pagamento, uma vez que a liquidação das compras será efetivada somente no vencimento da fatura.
Além disso, o cartão de crédito corporativo também permite o parcelamento das compras e uma melhor administração das despesas, já que todas as transações são registradas eletronicamente.
Não é à toa, portanto, que, enquanto a economia crescia, a modalidade expandia-se a um ritmo superior à média das demais modalidades de cartão de crédito.
Entre 2008 e 2014, o número de cartões de crédito corporativos ativos – que realizaram ao menos uma transação em 12 meses – quase quadruplicou, passando de 1,2 milhão para mais de 4 milhões.
O faturamento, por sua vez, saltou de R$ 21 bilhões para R$ 54 bilhões por ano no período, um crescimento anual médio de 17,3% – contra 11,1% dos cartões de crédito para pessoas físicas.
A modalidade, no entanto, foi uma das mais afetadas pela crise e perdeu R$ 10 bi de faturamento anual na comparação com 2014. Isto porque, ao cortar despesas para fazer frente à retração das receitas, as empresas reduziram, consequentemente, seus gastos nos cartões de crédito corporativos.
Contudo, não somente caiu o faturamento, como o cartão corporativo, que, conforme já dito, pode auxiliar as empresas no controle das despesas e na gestão do fluxo de caixa, passou a ser utilizado com meio de financiamento.
A partir deste momento, a modalidade, que pode ser a melhor amiga do lojista ao alongar os prazos de pagamento a fornecedores, torna-se sua pior inimiga, uma vez que cobra juros quase tão altos quanto os registrados para pessoas físicas.
Entre 2014 e 2016, o saldo das operações de crédito rotativo dos cartões corporativos cresceu 14,6%, enquanto nas operações sem juros (à vista e parcelado) o saldo caiu 5%, acompanhando a queda do faturamento.
Recorrer ao financiamento do rotativo pode ter sido o último recurso de muitas empresas diante da queda das vendas e da dificuldade de obter empréstimos a juros mais baixos.
A mistura das contas pessoais com as contas da empresa, muito comum em pequenos comércios, também pode estar por trás da mudança do perfil da carteira de crédito durante a crise.
Os juros altos do rotativo, somados à conjuntura econômica adversa, parecem ter agravado ainda mais a situação financeira dessas empresas, uma vez que a inadimplência da modalidade subiu entre 2014 e 2016 e ainda segue elevada, acima de 16%.
Passado o pior momento da crise, porém, já vemos sinais cada vez mais consistentes de retomada das vendas do comércio.
Mudanças estruturais no mercado de trabalho também devem incentivar a expansão dos empreendimentos comerciais nos próximos anos.
Os benefícios dos cartões corporativos devem ser avaliados e aproveitados pelos pequenos comerciantes neste novo ciclo de crescimento das vendas e dos investimentos.
A modalidade, contudo, deve ser evitada como meio de financiamento de curto prazo.
Linhas de capital de giro e antecipação de recebíveis, neste caso, são preferíveis, já que apresentam taxas de juros muito menores.
Diário do Comércio