Após a surpresa com o corte do juro em janeiro, o Banco Central volta a se reunir nesta terça-feira (21/02), e amanhã, diante da firme aposta do mercado financeiro de que o ritmo de redução da taxa básica (Selic) continuará em 0,75 ponto porcentual.
A recente inflação de janeiro, que ficou no menor patamar em quase 40 anos, mexeu com os ânimos e tem sido usada como argumento de pressão – até mesmo no próprio governo – para que o Comitê liderado por Ilan Goldfajn acelere o passo.
Analistas reconhecem que há algum espaço para ação mais agressiva, mas a maioria absoluta dos economistas e de analistas do mercado financeiro – como mostrou levantamento do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado – acredita que o BC manterá o ritmo. Parece não haver dúvida entre analistas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC continuará com o processo de desaperto da economia.
Das 68 instituições financeiras ouvidas pelo Projeções Broadcast, 67 apostam em corte do juro de 0,75 ponto, de 13,00% para 12,25% ao ano. Apenas uma casa prevê redução mais agressiva, de 1 ponto, o que levaria a Selic para 12%.
Confirmado qualquer um dos dois cenários, esse terá sido o quarto corte seguido do juro, no processo iniciado em outubro de 2016.
O pano de fundo para o movimento é a clara tendência de desaceleração dos preços. O dado mais recente do índice oficial de inflação, o IPCA, mostrou alta de 0,38% em janeiro, no menor patamar da série, iniciada em 1979.
Esse dado, aliás, foi amplamente comemorado pelo governo e serviu como gatilho para a nova onda de pressão sobre o BC.
O presidente Michel Temer voltou a falar publicamente do tema e lembrou que o governo conseguiu reduzir a inflação pela metade em poucos meses, do pico de 10,7% para os atuais 5,35% no acumulado em 12 meses.
Esses números têm motivado autoridades e empresários, que cobram pressa na redução dos juros para acelerar a retomada da atividade.
Economista de formação, o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), defendeu abertamente a queda de um ponto porcentual.
Ao comentar que falava "como economista", argumentou que a inflação está em trajetória descendente, os preços administrados estão controlados e não há pressão pelo câmbio.
Apesar do discurso aberto de um dos "homens fortes" de Temer, a pressão política dentro do governo parece menos intensa que a vista em janeiro.
Na equipe econômica, há percepção de que a surpresa da reunião passada amenizou a ansiedade de alguns setores – o que estaria suavizado a pressão sobre o BC.
O próprio presidente Temer adotou tom ameno. "Evidentemente, os juros vão caindo também responsavelmente, porque é importante que os juros reais sejam incentivadores do investimento.
Mas o mais importante nisso tudo, é exata e precisamente aconfiança. E a confiança vem sendo restabelecida", disse nesta segunda-feira 20, em evento em São Paulo.
O chefe de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, reconhece que o espaço para a redução do juro cresce à medida que as expectativas para a inflação cedem.
Ele cita como exemplo a "grande possibilidade de que a inflação terminará 2017 em 4,5% ou abaixo". Mesmo assim, prevê queda de 0,75 ponto pelo cenário externo.
"A alta do juro em dólar e o aumento do peso das incertezas globais demandam cautela contra eventual excesso no ciclo de afrouxamento", diz.
Mesmo assim, Ramos não descarta ação mais agressiva do BC em breve. "Levando-se em conta que o Copom cortará 0,75 ponto, nós procuraremos mudanças nos indicadores que podem sinalizar ou sugerir a abertura da porta para aceleração nos cortes para 1 ponto na reunião de 12 de abril", afirma o economista.
O diretor de gestão de renda fixa e multimercados da Quantitas Gestão de Recursos, Rogério Braga, afirma que a janela para cortes maiores da Selic, de 1 ponto porcentual, ficará aberta até o fim do primeiro semestre. Até lá, o Copom se reúne nesta semana, em abril e em maio.
"É possível que o BC caminhe para 1 ponto, dependendo de como a inflação caminhar. A inflação corrente despencou muito rápido", lembrou.
"Só que quanto mais baixo estiver a Selic, mais perto do ponto de equilíbrio ela estará. Então, menor a probabilidade de o BC acelerar os cortes. Se o BC não fizer essa aceleração no primeiro semestre de 2017, é difícil fazer depois."
Na tarde desta segunda, no mercado futuro da BM&FBovespa, os ativos ligados a juros indicavam cerca de 16% de chances de o Copom reduzir a Selic em 1 ponto porcentual já na reunião desta semana. Os outros 84% das apostas são de que o corte será de 0,75 ponto porcentual.
Diário do Comércio